top of page

Caim

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 27 de mar. de 2024
  • 2 min de leitura

O polêmico e ferino José Saramago, recria o Antigo Testamento à seu modo de pensar, mostrando um outro lado da moeda, muito mais divertido e interessante. E claro, os cristãos não vão gostar nada, nada disso!


O enredo começa com a criação de Adão e Eva, e os acompanha até sua expulsão do Éden. A partir daí, a história passa a ser protagonizada pelo próprio Caim. A narrativa mostra toda a jornada do primeiro assassino que após matar seu irmão, foi poupado por Deus, que também se sentiu culpado e cúmplice do crime ao longo das passagens mais célebres do Antigo Testamento.


Ao longo de idas e vindas, Caim vivencia e contesta muitos dos acontecimentos presenciados por ele, ao longo da história da humanidade. O detentor do prêmio Nobel de Literatura, José Saramago é conhecido pela sua literatura ácida e satírica, sempre antagonizando Deus e a religião. Se em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, ele aborda o Novo Testamento sob seu ponto de vista, aqui é o Antigo Testamento o seu novo alvo. De leitura rápida e envolvente, Caim repassa com muita poesia e musicalidade, uma versão mordaz dos acontecimentos bíblicos, narrando a eterna guerra entre Criador e Criatura. Contos que obviamente todos conhecem, são mais uma vez narrados, sob o ponto de vista do primeiro assassino da história, pequenas sutilezas são desnudas e realçadas, mostrando uma versão mais egoísta de Deus.


Divergências religiosas a parte, o fato é que lendas como a destruição de Sodoma e Gomorra, a Torre de Babel, a queda das muralhas de Jericó, a triste sina de Jó e o amplamente difundido dilúvio, acabam se tornando divertidíssimas sob a escrita mordaz de Saramago, repletas de ironia e depravações cômicas como o fato de Abel, ser filho possivelmente não de Adão, mas do querubim que guarda a entrada do Éden. Caim por sua vez, não poderia ser escolha melhor para protagonizar essa história, um dos personagens mais sombrios e sinistros da Bíblia que ao lado de Judas e o próprio Lúcifer, compõe um tipo de Divina Trindade do Mal acaba sendo o mais sensato de todos os personagens, com um ponto de vista neutro é o narrador ideal para mostrar em como foi incompetente a gestão da humanidade por parte de Deus.


Como praticamente toda obra de Saramago, Caim é uma verdadeira crítica a humanidade, sempre mesquinha e egoísta e o autor ainda alfineta, afinal, se somos feitos à imagem de Deus, teríamos portanto os mesmos defeitos do criador. Com um final inesperado e surpreendente, a humanidade tem no fim das contas, seus problemas resolvidos pelo próprio Caim, ironia que culmina num desfecho fascinante para a obra em questão.

Comments


© 2023 por Meras Literatices. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Branca Ícone Instagram
bottom of page