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A Navalha de Ockham

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 2 de abr. de 2024
  • 3 min de leitura

Quem foi Guilherme de Ockham? É a pergunta que se faz, tanto quem pretende ler, quanto aquele que já leu o livro de  Johnjoe McFadden. De um livro chamado, A Navalha de Ockham, espera-se pelo menos uma entre duas abordagens: uma biografia do filósofo ou uma análise filosófica sobre suas ideias, mas não encontramos isso aqui.


A escrita de Johnjoe McFadden é boa, dinâmica, porém muito rasa e desconectada daquilo ao qual se propõe. Para ser mais justo com o leitor, o livro atenderia melhor pelo nome de Cosmos (sim, já existe outra obra com esse nome) ou até algo como, Uma História Concisa da Ciência, também cairia bem. O livro utiliza aquela velha narrativa de Cosmos, para contar como se desenvolveu o conhecimento sobre o universo através dos inúmeros avanços científicos do passado e como essas descobertas ecoaram no pensamento intelectual: McFadden narra como a filosofia medieval, fundamentada em Aristóteles e Platão, mudou com o uso da navalha de Ockham e como isso interferiu no avanço das descobertas sobre o universo. Mas quem foi Ockham e o que era sua navalha?


Como não fazer uma biografia! Ockham é um mero coadjuvante numa obra que deveria ser sua, o personagem aparece durante poucas páginas (umas três ou quatro) e tem sua importância dividida com os outros cientistas que surgem ao longo da crônica. Em momento algum é possível entender quem foi Ockham! O personagem só é mencionado durante uma rápida (e até interessante) contextualização histórica, mas com exceção à isso, não descobrimos mais nada sobre o filósofo nem como ele viveu.


Nesse caso, restaria a outra abordagem, um livro sobre a filosofia de Ockham, o que também não ocorre. McFadden consegue contextualizar muito bem o pensamento da época e sintetizar as filosofias vigentes de maneira clara, mas falha em falar sobre a navalha. Assim como o próprio personagem, sua doutrina aparece em poucos parágrafos e muito superficialmente, com apenas uma ou outra citação direta, e mesmo assim, a partir disso, McFadden começa a utilizar a navalha indiscriminadamente em todos os momentos da história.


A Navalha de Ockham não é portanto, nem uma biografia e nem um livro de filosofia da ciência, apenas um livro de história raso e é aí que mora o grande problema. A tal navalha seria um princípio fundamental do método científico, que é o de sempre escolher o modelo explicativo mais simples em detrimento de modelos mais complexos, mas em momento algum fica explícito qual foi o impacto desse pensamento em outros autores. Sem entender de fato qual é a proposta da navalha e como ela debateu com outras formas de pensar, é difícil sentir seu impacto no desenvolvimento do pensamento científico. A história da epistemologia só faz sentido, quando analisada através do debate dos autores, de forma que fiquem explícitas suas influências, mas aqui em momento algum é possível determinar de fato, onde está o impacto de Ockham na ciência. O que McFadden faz é enxergar a navalha em todo e qualquer lugar e replicar seu argumento exaustivamente sem nenhum um tipo de embasamento.


Nem todos os conceitos filosóficos precisam ser inventados necessariamente por alguém ou serem inventados uma única vez. Por exemplo, a noção de que existem limites para o que o conhecimento pode alcançar — ideia que McFaddden também credita à Ockham — que separa a física da metafísica, é discutido por todos os filósofos da ciência pois é inerente à própria discussão; a noção de que os organismos se modificam, e que culminou na Teoria da Evolução de Charles Darwin, também já era discutida séculos antes por outros autores, mas que nunca tinham chegado à um mecanismo ideal. Quão importante ou influente de fato Ockham foi, não fica evidente, o que temos são apenas exemplos forçados e sem embasamento de como ele teria influenciado todo mundo em todo lugar. A ideia de optar por modelos explicativos simples é de fato sensacional, mas se ela é algo inerente ao debate científico ou se é de fato uma inovação intelectual cunhada por Ockham, o livro não deixa claro!

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