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Correio Noturno

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 31 de jul. de 2023
  • 2 min de leitura

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Quantas palavras não ficam por serem ditas e quantos olhares ou toques se perdem nas areias do passado sem nunca nos abandonar completamente. Muita dor e injustiça acontece nesse mundo e a ferida que essas perdas causam nunca se cicatrizam na lembrança dos injuriados.


A libanesa Hoda Barakat, escreve sobre a perda e a memória num livro de estrutura simples, mas com proposta interessante. Em Correio Noturno acompanhamos cinco cartas que foram escritas, porém nunca foram enviadas. Cartas escritas por pessoas que a vida “quebrou” de alguma forma, pessoas que perderam o lar, os laços sociais e a inocência! São confissões de uma existência de dor, um último grito de angústia, uma tentativa final de botar para fora o que precisa ser dito e resolver questões em aberto, que só existem na forma da saudade.


Se no maravilhoso Doze Contos Peregrinos, a Europa é onde Gabriel Garcia Marquez exila seus personagens separados de seu lar por todo um oceano, é a mesma Europa que Hoda Barakat oferece de refúgio aos seus, mas que cuja pátria deixou de existir. Ambientado em algum lugar do Oriente Médio o livro não versa sobre a região em si, mas sobre os refugiados que ela produz. Não espere encontrar arquétipos regionais ou sociais e sim o lamento de pessoas comuns (um filho, uma mãe, uma amante, etc...) que perderam tudo. É um livro simples e rápido de se ler, mas que carrega uma grande carga dramática, onde o maior legado que resta aos personagens é uma saudade palpável e doída de um mundo que não existe mais, um mundo que de uma hora para outra vira do avesso deixando os seus sobreviventes abandonados e a mercê do acaso. Correio Noturno cabe naquela mesma estante suja e pessimista onde estão seus Dostoievski, Roth, Céline, entre outros, não é apenas aquele tipo de livro para nos fazer lembrar da inclemência do destino e da dor dos outros, mas é um livro muito pessoal. No breve período que nos é destinado a viver, centenas são os acontecimentos que ficam engasgados e os desencontros que nos marcam para sempre, um olhar que você não mais contemplará ou um abraço a ser dado podem nos atormentar para sempre e só encontrarem um significado nas cartas nunca escritas!

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