O Deserto dos tártaros
- Italo Aleixo
- 13 de out. de 2023
- 2 min de leitura

Isolado nas fronteiras da civilização, o forte fica a encarar o vasto deserto, enquanto aqueles que lá estão precisam se manter sempre atentos, pois a qualquer momento, os tártaros romperão pelo horizonte e a temível guerra será travada. O leitor acompanha a história de Giovanni Drogo, um oficial destacado para servir nesse forte, onde os militares esperam perpetuamente por uma guerra que nunca chega e se deparam com a própria insignificância de suas funções, em meio ao tédio e uma rotina regida por regras incompreensíveis.
O Deserto dos Tártaros é uma obra introspectiva. Com caráter quase minimalista ela nos leva a contemplar não só a paisagem em si, agreste, inóspita, composta por sendas e pelas montanhas situadas no limiar do deserto, mas também, a voraz passagem do tempo, a medida que as oportunidades e promessas de conquistas para aqueles ali confinados, vão se esvaindo como areia numa ampulheta.
Com uma narrativa bonita e um quê de "surreal", acompanhamos o dia a dia do forte e o desenrolar de eventos singulares, demandas sem objetivo claro e que nunca trazem retorno algum: jornadas rumo à montanhas inalcançáveis, rondas desnecessárias, memorização de senhas inúteis, a espera de um inimigo que ninguém sabe de verdade se existe... Vemos tudo isso, através dos olhos e pensamentos de Drogo, que debate consigo mesmo seus objetivos e planos na vida, enquanto se distancia completamente do mundo real e de seus habitantes.
Com um estilo bem filosófico, em diversos momentos me peguei pensando no maravilhoso Terra dos Homens, de Antoine St-Exupéry, que também explora tanto a solidão quanto a vastidão do mundo que se estende diante de nós. É claro que, a obra de St-Exupéry tem um tom otimista, focando no amadurecimento, nos momentos mágicos que compõe nossa existência e na liberdade, enquanto Buzzati foca justamente no contrário: no sacrifício que fazemos de nossas próprias vidas, ao abrirmos mão de preciosos anos a troco de nada, enquanto somos aprisionados por um objetivo nebuloso.
O Deserto dos Tártaros é uma obra para refletir, todos nós somos destinados para nossos próprios fortes: faculdade, emprego, especializações, amores... e esperamos por uma conquista que, como a tal guerra, pode nunca chegar ou pior, chegar quando já for tarde demais! A questão é, quanto do nosso precioso tempo nos podemos dar ao luxo de sacrificar?
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