O tirandentes - Uma biografia de joaquim josé da Silva xavier
- Italo Aleixo
- 30 de out. de 2023
- 3 min de leitura

Quando as Treze Colônias, na América do Norte, decidiram se unir e se autodeclararam independentes, os impérios europeus tiveram os primeiros indícios que os ventos da mudança estavam chegando, logo, o espírito revoltoso dos americanos iriam contagiar os franceses e varrer a Europa. Uma vez disseminados os germes da liberdade, seria uma questão de tempo até que eles florescessem em outras colônias espalhadas pelo mundo: a Inconfidência Mineira foi o primeiro movimento de sedição da América do Sul.
O grande mártir da Inconfidência, foi Joaquim José da Silva Xavier, conhecido pela maioria dos brasileiros simplesmente como: o Tiradentes! O personagem é estudado nas escolas e tem seu próprio feriado nacional, mas afinal de contas, quem foi o Tiradentes? A biografia do revolucionário tenta contar essa história da melhor maneira possível: a narrativa começa já na vida adulta de Joaquim, alferes em Vila Rica (atual Ouro Preto), na época capital da Capitania de Minas Gerais. Ao longo de suas andanças pelas sendas e serras que ligam Minas ao Rio de Janeiro, Joaquim participa de excursões militares, batalhas e desenvolve seus empreendimentos econômicos, mas na falta de “padrinhos” que lhe agraciassem, não consegue crescer na carreira. A insatisfação pessoal de Joaquim, somada ao clima geral de insatisfação dos mineiros, que foi potencializado pela cobrança exacerbada das cotas de ouro por parte de Portugal — tendo em vista que o metal já estava se escasseando nas Minas Gerais — incute a revolta no espírito do alferes e coloca em sua cabeça o tão sonhado sonho de liberdade.
Todos os méritos da obra cabem ao jornalista Lucas Figueiredo, que conseguiu, por meio de uma pesquisa minuciosa a uma escassa e tendenciosa documentação, escavar a memória do homem por de trás do mito, assim como a dos outros inconfidentes, soterrada por mais de dois séculos de história. A obra retrata não só os principais palcos da Inconfidência, Vila Rica e o Rio de Janeiro, como também faz uma boa exposição de seus arredores e os bastidores ocorridos na Europa, o autor recria com maestria o clima entre o império decadente e a colônia insatisfeita. É nesse cenário que vemos os primeiros lampejos de insubordinação de Tiradentes, passando pelas reuniões secretas entre os intelectuais por de trás do movimento, até a fatídica traição, inclusive tomando o cuidado de narrar o desfecho de todos os personagens envolvidos na trama!
É revelador e em certo ponto até frustrante, ver personalidades e grandes acontecimentos despojados de seu caráter simbólico: a Inconfidência Mineira esteve longe de um movimento verdadeiramente funcional, relegada ao campo das ideias, estava mais próxima de um capricho dos intelectuais envolvidos do que de um empreendimento verdadeiramente prático. Tiradentes por sua vez, é despido dos matizes santificados com os quais foi traçado e aqui o vemos mais como um entusiasta do que de um revolucionário de fato, cuja falta de autopreservação o levavam a bradar aos quatro ventos as ideias de sedição e tentar recrutar o máximo possível de almas para sua empreitada.
Influenciada pela mentalidade medieval, a lei vigente, exigia que a punição para atentados contra a coroa fosse exemplar, além disso, o anteparo religioso oferecido aos condenados, dava a entender que a única maneira do penitente pagar seus pecados seria expiando-os — assim como Jesus fez com os crimes da humanidade. A ironia disso tudo, mostra que todo o teatro envolvendo a execução de Tiradentes, que tinha como intuito passar o recado de que as ideias sediciosas eram sacrílegas e um ato de ingratidão para com Coroa, teve um efeito contrário e nos próximos séculos, Tiradentes seria lembrado como o grande mártir da Inconfidência Mineira, o primeiro movimento separatista que ocorreu em prol da República.
Pela forma amadora como foi arquitetada, é de se admirar que a Inconfidência Mineira tenha entrado para a história, as ideias porém, são símbolos poderosos e duradouros, e o esforço de Portugal para obliterar o "absurdo desejo pela liberdade" acabou criando um mártir que é lembrado até hoje!
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