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O Xá dos xás

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 16 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

Eu gosto do jornalismo, não pela simples informação mas pela estética envolvida na divulgação de notícias. Gosto de uma cobertura bem fundamentada dos eventos, do desenvolvimento de narrativas sólidas e filosofias sobre o tema. No seu âmago, o jornalismo lembra o trabalho daqueles antigos exploradores que penetravam paisagens exóticas para depois maravilhar o mundo com a descrição de suas aventuras, no entanto em uma versão moderna, sustentada por um conjunto de princípios éticos e regras sólidas e com rigor científico. Escritores como Jon Krakauer, Elizabeth Kolbert, Svetlana Aleksiévitch, entre outros, fazem isso magistralmente através do "jornalismo literário".


Ryszard Kapuściński, considerado um dos mestres do jornalismo literário, teve uma vasta carreira jornalistica cobrindo conflitos por todo o mundo durante o século XX. Em O Xá dos Xás ele vai até o Oriente Médio e faz uma cobertura da famigerada Revolução Iraniana. Usando uma narrativa em primeira pessoa, repleta de opiniões e adendos históricos, o autor fala sobre as mudanças que a sociedade iraniana passou durante a revolução, de como a figura do Xá era assustadora porém impotente e filósofa bastante sobre o medo, guerras e sobre aspectos históricos envolvendo Oriente x Ocidente. Dessa forma, O Xá dos Xás acaba sendo uma importante obra sobre a Revolução Iraniana.


A grande questão com relação ao autor seria o fato de seus livros não serem jornalismo verdadeiro. Contra factual em diversos momentos, como ao florear alguns acontecimentos e narrar eventos que ele não presenciou, seu estilo fica num limiar entre o jornalismo e a ficção. Em sua defesa o próprio autor deixava claro que o importante para ele não eram os fatos pontuais em si, mas o "movimentos humano" por trás de todos esses grandes eventos.


Uma vez que nem todos os eventos narrados por Kapuściński, foram de fato presenciados pelo autor, devemos considerar sua obra como ficção. Contudo, não é apenas por ser fictícia que uma obra não tem valor informativo, devemos lembrar por exemplo, que um bom historiador tendo em mãos dados concretos, narra entusiasticamente eventos acontecidos há séculos, também não podemos descartar toda nossa cultura de narrar eventos históricos, seja no cinema, televisão, teatro ou na literatura. Além disso, Kapuściński foi de fato correspondente de guerra nesses países, coletou informações em primeira mão e é dono de uma escrita sensacional onde escolheu utilizar esse estilo jornalístico para contar suas histórias.


Xá dos Xás então, além de bonito esteticamente é reflexivo quanto ao porquê do governo do Xá ter sido um fracasso e de porque as revoluções surgem quase como uma força natural em diversos lugares. Toda Nação começa pelos indivíduos, que devem ser valorizados, afinal como ondas no mar, podem convergir em uma só unidade e gerar movimentos arrasadores!

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