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o último duelo

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 31 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

Mais do que pelo mero prazer da leitura, eu admiro na literatura o fato dela ser um registro histórico, um documento que nos permite viajar pelo mundo ou pelo tempo e visitar outras culturas. Ritos, costumes, crenças e modos de pensar ancestrais, que tiveram a sorte de serem registrados, não se perdem na memória e podem ser evocados a qualquer momento. Aqui nos vamos até a França medieval, palco de um dos últimos e mais populares duelos mortais entre cavaleiros treinados. Quando Marguerite de Carrouges acusa Jacques Le Gris de estupro e passa a ter sua honra e própria vida julgadas, um combate mortal entre seu marido Jean de Carrouges e o acusado, é convocado para resolver a questão, perante a justiça dos homens e os olhos de Deus.


Diferente do filme e de romances históricos, nos moldes de Bernard Cornwell ou Steven Pressfield, O Último Duelo está mais próximo de uma obra acadêmica do de um romance literário. Munido de uma vasta pesquisa à documentos medievais, Eric Jager faz um retrato conciso desse que foi um dos julgamentos por duelo mais famosos da França. A narrativa é um texto histórico conciso dos eventos prévios e subsequentes ao avento e que descreve o ambiente da época e as ações reais dos personagens.


O maior mérito de O Último Duelo é a ambientação da idade média. Mesmo com descrições pragmáticas, Eric Jager consegue não só recriar o cenário histórico do Século XIV, através da descrição de castelos, vilarejos, da paisagem e de rotas de deslocamento, como também explica o contexto histórico, com direito a descrições memoráveis de batalhas na Inglaterra, pela Guerra dos Cem Anos, até conflitos no Oriente Médio pelas Cruzadas.


Além do contexto físico do livro, temos um vislumbre do contexto filosófico do pensamento e da legislação medieval, que embora fosse regida por conceitos religiosos absurdos e noção científica bastante arcaica, já era bem fundamentada e até hoje reflete em alguns aspectos jurídicos modernos (discutido por Eric Jager). É interessante acompanhar os debates do julgamento e ver como conceito biológicos (bastante medievais) e teológicos eram utilizados na tentativa de elucidar o caso.


O grande trunfo do livro é que, justamente por não ser um romance, ele não distrai o leitor com aventuras ou sentimentos artificiais, mas apela para seu lado realista. Um retrato cru da idade média, época tão romantizada pela cultura pop, mas um período negro, onde a guerra era onipresente, execuções públicas rotineiras e as mulheres não tinham nem o direto de se defender contemplado em lei!


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