Omeros
- Italo Aleixo
- 21 de out. de 2023
- 2 min de leitura

Onde se encontra a identidade de um país que já foi propriedade francesa, britânica e cujo o povo foi africano? É esse dilema e essa identidade que Derek Walcott tenta encontrar em sua epopéia, um poema que figura como um clássico latino-americano de identidade ímpar!
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Utilizando-se de arquétipos gregos, Walcott se baseia em Homero para fundar seu poema. O lendário poeta grego, pobre, sem origem, condenado a vagar pelo Mediterrâneo sem destino e a contar suas histórias, é o modelo ideal para todos os personagens que habitam a obra: pescadores que aparecem como Aquiles e Heitor, uma Helena causadora de discórdia, um Philoctetes amaldiçoado e um sem número de Ulisses vagando sempre em busca do lar.
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Na mitologia Grega, Helena, esposa de Menelau, foge com o príncipe de Tróia, Páris, evento que resultaria na Guerra de Troia - tema da Ilíada de Homero. A ilha de St Lúcia, também foi pivô de conflitos, sendo disputada primeiro por tribos nativas e posteriormente por França e Império Britânico, da qual mudou de mão diversas vezes, sendo batizada de Helena das Antilhas. A trama foca no dia a dia dos pescadores da ilha, dos nativos sempre a mercê dos turistas, nos cidadãos britânicos naturalizados e acima de tudo, em toda uma paisagem que deve tudo que é, a autoridade perpétua do mar!
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O real objetivo de Omeros, é evidenciar a ausência de raízes dos personagens, justamente pela falta de uma pátria: o velho militar britânico sente falta de casa e das conquistas de seu império; os negros que vivem em prol da pesca e do turismo, mesmo sem ter um passado arraigado, sentem falta de uma África ancestral; o próprio Derek, que não se sente em casa nem entre brancos e negros, sente a ausência de uma identidade própria. A grande epopeia é a busca de cada um desses personagens por suas raízes, por algo que os identifique, pela busca de um lar!
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Com liberdade poética, a obra mescla entre o real e mágico, em viagens pelo inferno - usando como cenário as fontes sulfurosas de St. Lúcia - pelo reino ancestral dos negros, pelas guerras da Grécia, assim como pela dor de outros imigrantes do mundo. Omeros é um poema maravilhoso, que vaga pelo Caribe em busca da identidade perdida de seus habitantes. Num mundo de peregrinos e abandonados, o único a possuir raízes é o Mar, que é sua própria pátria, inexorável telespectador da tragédia de Gregos e Caribenhos!
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