Por quem os sinos dobram?
- Italo Aleixo
- 18 de set. de 2023
- 2 min de leitura

Nó século XVII o inglês John Donne cunhou umas das frases mais bonitas da literatura. O dobrar dos sinos, utilizados para anunciar, entre outros eventos, a morte de alguém, foi o
termo escolhido por Ernest Hemingway para dar título a sua mais importante obra, imortalizando a sentença na cultura popular!
E por quem os sinos dobram afinal? Acompanhamos três dias da vida de Robert Jordan, soldado americano em missão com os partisans - guerrilheiros ou combatentes irregulares - que atuam da guerra civil espanhola, onde precisa detonar uma ponte atrás das linhas fascistas. O caráter excepcional da missão e seu perigo inerente, levam o soldado a refletir sobre sua própria existência e na daqueles que compartilharão sua infortunada missão.
Apesar da narrativa direta de Hemingway, a obra possui muitas nuances e camadas subjetivas. Um aspecto magistral do livro é o pano de fundo histórico, ambientado na Guerra Civil Espanhola, conflito onde Ernest Hemingway atuou ativamente como correspondente de guerra. Embora ficcional, temos um relato quase jornalístico do conflito: A tomada de cidades envolvendo batalhas e extermínio de civis, debates entre ideologias contrárias, a rotina rígida do exército em contraponto com o relaxamento dos Partisans, as táticas de guerrilha, etc... tudo narrado através de relatos e memórias que pintam um retrato do que foi a guerra que serviu de ensaio para a Segunda Guerra Mundial.
A faceta poética da obra ganha forma nas divagações dos personagens diante da efemeridade da vida. Perante a morte, aqueles 3 dias se tornam uma dádiva e o tempo ganha papel de destaque. Sonhos, medos, prazeres e ambições de uma vida, são confinados ao pouco tempo que lhes resta e tais poderosas experiências devem ser imortalizadas na memória.
A camada mais profunda e poderosa da obra é a humanidade do indivíduo e o absurdo da guerra. Tais como peças de xadrez, cada agente é obrigado executar seus movimentos esperados em batalha, mas cada peão carrega dentro de si todo um universo único. O conflito do bem versus mal, talhado na forma de república versus fascistas, se torna leviano quando os vários rótulos se dissolvem perante aos desejos mais íntimos de cada pessoa. Individualidades muito mais amplas do que pontos de vista políticos são mero combustível para uma máquina de moer homens que começou a se mover e não tem ordem de parar!
Nada mais justo do que finalizar essa resenha com a sentença completa de John Donne. A obra prima de Hemingway mostra como os seres humanos se conectam uns aos os outros fazendo da humanidade uma estrutura coesa onde cada vida tem sua importância. A morte de um ser humano ressoa pelos outros, tal qual uma pedra lança ondas num lago parado. O dobrar dos sinos diz respeito então não à morte de um simples indivíduo, mas ao desaparecimento de uma pequena parcela da humanidade,
“por isso não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti!”
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