Satã Herético: O nascimento da demonologia na europa medieval (1280 - 1330)
- Italo Aleixo
- 19 de out. de 2024
- 2 min de leitura

Um dos estereótipos mais comuns da Europa medieval é o de uma era sombria onde a igreja perseguia os pagãos a ferro e fogo. Mas a idade média também foi uma época onde o misticismo e a magia estavam em alta e "ciências" como a astrologia e alquimia eram amplamente praticadas. Quando então se deu esse divisor de águas, no qual o Diabo passou de coadjuvante a inimigo real?
Satã Herético é uma dissertação histórica sobre as reformas que ocorreram nos bastidores da igreja, para que essa transformação acontecesse. Alain Boureau, historiador francês especialista em história medieval, discute as mudanças sociais que levaram à Igreja Católica a mudar sua postura, que antes era de uma posição apática perante os demônios para uma preocupação ativa com essas entidades.
O Diabo poderoso e ameaçador surge como uma consequência da reação do Papa João XXII que era atacado pelas ordens mendicantes. O Papa então, passa a utilizar o maquinário da igreja para reinterpretar conceitos cristãos e alterar leis, que lhe permitissem perseguir seus inimigos políticos. Debates teológicos, legislativos e mudanças na filosofia natural confluem na inquisição como conhecemos: a heresia antes considerada concernente apenas ao pensamento, passa a englobar outras práticas mundanas; novas interpretações sobre doenças psicológicas e natureza humana, mudam a suscetibilidade do homem ao espírito, tornando as pessoas passiveis de serem atentadas e possuídas por espíritos malignos; novas leis são criadas para punir os hereges. O resultado dessas transformações no pensamento, é que os "demônios" passam de submissos ao poder divino para poderosos adversários de Deus.
Apesar do cunho basicamente acadêmico, é um conteúdo interessante onde o autor discorre e mostra através de uma vasta documentação, a batalha pessoal do papa João XXII contra a ordem dos Franciscanos que acabou levando à tais transformações. No fim tudo se resume ao velho teatro do poder, onde o Papa luta para manter sua moral e posicionar suas peças, os intelectuais discutem entre si defendendo sua visão de mundo, toda essa trama emoldurada pela postura defensiva da igreja contra um mundo cada vez mais secular. São os bastidores da história que normalmente não vemos!
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