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Sendero luminoso - história de uma guerra suja

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 11 de out. de 2023
  • 2 min de leitura

A primeira coisa que lhe vem à mente quando se fala em histórias em quadrinhos, são super heróis, acertei? É bastante difícil desfazer esse estigma, uma vez que os supers surgiram nesse meio. Porém, não só de heróis vivem as HQ’s, muito drama, horror, filosofia e fantasia se expressam pela nona arte, inclusive o jornalismo literário. Nos anos 80, Maus conquistou a crítica especializada, quando Art Spielgelman decidiu contar a história de seu pai, um judeu sobrevivente do Holocasuto, numa história que revolucionou o gênero e foi premiada com o Pulitzer em 1992 – feito até hoje não alcançado por nenhuma outra graphic novel. É também na nona arte, que Joe Sacco jornalista e quadrinista renomado, expressa suas investigações sobre as questões humanitárias das zonas de guerra no Oriente Médio.


É justamente pela comunhão de aspectos literários e gráficos, que a nona arte parece abraçar tão bem o jornalismo literário. Da mesma forma que muitas reportagens ganham corpo, não só através de textos ou imagens reais, mas também através de encenações, reconstrução e simulações, isso faz com que os quadrinhos sejam um ambiente confortável para matérias jornalísticas tomarem forma. É disso que se trata Sendero Luminoso: A História de Uma Guerra Suja, um excelente “documentário” sobre a famosa guerrilha peruana.


No melhor estilo de Narcos, Maus e dos quadrinhos documentais de Joe Sacco, Sendero Luminoso, é uma obra extremamente violenta, critica e politizada, que figura fácil entre um dos melhores quadrinhos do gênero. A trama mostra a ascensão do Sendero Luminoso, guerrilha peruana que assombrou o Peru na década de 80 e mergulhou a região num banho de sangue, tragédia que foi potencializada pela reação desenfreada do exército, que respondia a massacres com mais massacres. Quem pagava o preço no fim das contas, era sempre a população rural.

A narrativa fluente e não linear, segue os moldes do jornalismo literário e momentos chave do conflito: reuniões secretas, invasão de vilarejos, combates entre guerrilheiros e militares e os diversos massacres (quase sempre de civis), são intercalados pela movimentação nos bastidores: de jornalistas, políticos, militares de alta patente e guerrilheiros.


É impossível não se chocar a violência. Comunidades inteiras massacradas, extermínios, estupros e covas coletivas, são só alguns dos elementos que compuseram o inferno que os peruanos viveram, mais revoltante ainda é a impunidade que persiste até hoje dos militares condenados na tragédia. Se tornou senso comum nas narrativas atuais usar o nazismo como referência para a maldade no século XX, mas nem precisamos vasculhar muito a fundo a história para perceber que, a receita para desencadear desastres humanitários está em todos os lugares: a perseguição de minorias no oriente, a situação dos palestinos, o genocídio de Ruanda, as diversas guerrilhas e ditaduras na África e América do Sul. A maldade é uma condição natural que anda de mãos dadas com o poder ilimitado.

Uma obra fantástica – melhor que os quadrinhos do próprio Joe Sacco - seja pelo tema abordado pouco conhecido por nós, pela desenvoltura da narrativa, pelas excelentes ilustrações ou pela crítica política em si. Sem muito exagero, diria que é quase uma obra essencial, senão pelo tema, como representante do jornalismo literário nos quadrinhos. Só esteja ciente do conteúdo devastador, fique preparado e num bom estado de espírito, é uma viagem ao inferno que horrorizaria Dante.

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