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Temporada de Furacões

  • Foto do escritor: Italo Aleixo
    Italo Aleixo
  • 3 de mar.
  • 2 min de leitura

O leitor, que em algum momento, se deparou com aqueles programas policiais sensacionalistas que passam fora do horário nobre e mostram toda sorte de crimes e obscenidades que ocorrem entre as frestas do mundo civilizado, Já se perguntou que tipo de mundo é esse e quem são os personagens que o compõe?


Na cidade fictícia de La Matosa, encravada em algum lugar do México, os furacões já mataram e soterraram centenas de vítimas no passado e assim como os furacões, a narrativa de Fernada Melchor também deixa um rastro de destruição. No livro acompanhamos o desenlace do assassinato da Bruxa — um tipo de benzedeira local —, sob a óptica de outros personagens envolvidos com tal personalidade, também imersos em violência e perdição.


Sem tomar fôlego e num ritmo frenético, que remete um pouco à Saramago, o livro narra a vida destroçada dos morados de La Matosa, exibindo de maneira explícita atrocidades como, abuso infantil, canibalismo, zoofilia, assassinatos, etc. Não espere nenhum tipo de redenção, pois Temporada de Furacões é uma espiral descendente para a ruína. A obra me lembrou muito um outro autor latino, Pedro Juan Gutiérrez, que em seu O Rei de Havana, conta a história de um personagem sem futuro, recém saído da cadeia, vivendo na sujeira e transando com todo mundo que aparece. Ambas as obras tem linguagens muito parecidas, são desbocados e revelam um mundo sujo, onde o sexo e a violência são as forças fundamentais.


A grande virtude da literatura é revelar os mais variados retratos da sociedade e por isso muitos leitores se deleitam com a possibilidade de viajar através das páginas dos livros. Mesmo quando muito realistas essas impressões não são exatamente desprovidas de esperança. No clássico brasileiro O Cortiço, por exemplo, temos um eco do que era o Rio de Janeiro durante o surgimento dos cortiços — que futuramente iriam dar origem as favelas — e mesmo num cenário miserável, o sentimento de luta contra o destino ainda paira no ar. Não podemos nos esquecer porém, que existe toda uma parcela da sociedade arruinada de tal forma, que a perdição é total. Escritores como Charles Bukowski, Pedro Juan Gutiérrez e Fernanda Melchor, preferem focar na sordidez para mostrar esse teatro dos desgraçados, dos quais preferimos virar os olhos.


Temporada de Furacões é tão poderoso como o nome sugere, é o retrato de um mundo onde a violência brota do chão, sem nenhum propósito. Por mais absurdo que pareça, Melchor revela, no fim do livro, que se baseou em alguns crimes que de fato ocorreram e dedica a obra à alguns jornalistas que foram assassinados, mutilados e nunca tiveram o caso concluído. É esse cenário de desesperança que se estende sob o tapete da sociedade, um mundo secreto, do qual temos um pequeno vislumbre apenas pelas páginas policiais.

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