Um Cântico para Leibowitz
- Italo Aleixo
- 8 de mar. de 2024
- 2 min de leitura

Quais seriam os passos que a humanidade tomaria se precisasse se reerguer do zero? Normalmente obras pós-apocalípticas tendem a focar na sobrevivência de personagens tentando se adaptar à um mundo destruído, numa sociedade já no fim da sua existência. Um Cântico para Leibowitz aposta numa abordagem diferente e foca na continuação da sociedade depois da destruição. Mesclando elementos de literatura distópica e pós-apocalíptica, o livro é um clássico do gênero, vencedor do prêmio Hugo de 1961 — um dos principais prêmios para ficção científica.
Na trama a sociedade foi destruída por um holocausto nuclear e os sobreviventes passam à ter uma aversão pela ciência e tecnologia, destruindo tudo que seja remanescente científico e caçando os cientistas, num movimento que ficou conhecido como Simplificação. Passados alguns séculos a sociedade vive um ambiente medieval, onde todo conhecimento e avanço tecnológico foi praticamente perdido e o pouco que restou, a Memorabilia, é protegido pelos monges da Ordem Albertina de Leibowitz. O livro é dividido em 3 partes: FIAT HOMO (“Faça-se o homem”) se passa no século XXVI, um cenário medieval onde tribos selvagens povoam a região e a Igreja é a instituição mais forte — a única instituição que permaneceu — e mostra a jornada do irmão Francis Gerard, noviço que acaba se deparando com relíquias de um passado esquecido… Avançados mais 600 anos, FIAT LUX (“Faça-se a luz”) é uma espécie de Renascimento, onde as tecnologias do passado passam a ser redescobertas, graças a anos de estudo em cima da Memorabilia. Nessa mesma época as “tribos” humanas já estão mais organizadas e grandes líderes começam a despontar, trazendo de volta os conflitos de interesses e guerras iminentes. E novamente avançados 600 anos a terceira e derradeira parte, FIAT VOLUNTAS TUA (“Seja Feita a Vossa Vontade”) narra os eventos numa civilização que conseguiu recuperou seu auge e novamente se encontra a beira de um holocausto nuclear…
Ao invés de optar por contar uma história de sobrevivência ou fantasia, Um Cântico para Leibowitz faz uma abordagem mais histórica de um mundo pós-apocalíptico, abordando como sobreviveriam as instituições, como a sociedade se organizaria e lhe daria com a situação. Walter Miller Jr. faz uma crítica da condição humana e do caráter cíclico da história, de como nós tendemos a sempre repetir os erros do passado, nunca evoluindo como espécie. O livro abre mão da ação e da sobrevivência para apostar nos detalhes e na reconstrução da história, com pitadas de epitesmologia, mostrando como o conhecimento é mantido e difundido, são esses detalhes que fazem o livro tão bom e tão profundo.
A Memorabilia tratada como relíquia — em sua maior parte documentos banais de hoje em dia — fazendo as vezes das relíquias sagradas de nosso passado; a redescoberta de tecnologias hoje obsoletas como marcos da nova sociedade; a estranha figura do peregrino que parece perdurar por toda a obra, que dá um tom místico a obra. Um Cântico para Leibowitz foi um marco da literatura distópica a mais de 50 anos e mesmo hoje se mantém extremamente atual e é uma excelente obra para quem curte cenários pós-apocalípticos mas espera uma abordagem alternativa.
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