Viagem Ao Fim da Noite
- Italo Aleixo
- 19 de fev. de 2024
- 2 min de leitura

O que teria a nos dizer sobre o mundo um declarado anti-semita, apoiador da invasão nazista e que morreu no ostracismo, condenado pelo seu ponto de vista? Influenciado pelos horrores que viveu, Louis-Ferdinand Céline escreveu um dos romances mais influentes do século XX, um ode ao pessimismo, obra que modernizou a linguagem e impactou a literatura do século passado. Fica difícil imaginar o que seriam um Bukowski ou Philip Roth sem esse livro.
Viagem ao Fim da Noite, obra de cunho autobiográfico, narra a jornada de um soldado que vivenciou os horrores da guerra na Europa, os absurdos da África colonial, uma América indiferente e de uma França onde o sofrimento humano é varrido para baixo do tapete. Rompendo com os academicismos da época, utiliza de uma linguagem despojada e depravada numa narrativa que exalta a sujeira e os detalhes sórdidos da relações humanas.
Dostoievski exerce uma influencia indiscutível na literatura mundial, o russo mergulhou fundo no existencialismo para discutir a desconexão do homem moderno com as narrativas do mundo à sua volta e dessa forma moldou seus personagens revoltosos contra tudo. No meio do caminho entre o super-homem de Nietzsche, que se liberta de todas as narrativas, e os angustiados personagens de Dostoievski, que sucumbem diante de suas próprias convicções, surge o homem pessimista, desapegado das narrativas e preocupado apenas consigo mesmo, Céline escreveu um dos romances modelos do pessimismo. Se Thomas Mann, concebeu em A Montanha Mágica um belíssimo romance de formação, que discute algumas ideologias vigentes do século XX à medida que constrói seu personagem, Viagem ao Fim da Noite é uma antítese do romance de formação, é o desenvolvimento de um personagem decadente, sem um caráter para construir, desprovido de ideologias e que passa a vida divagando sobre a sordidez do mundo.
Viagem ao Fim da Noite é a história do típico cidadão médio nos momentos mais negros do século XX. Não se trata porém de um livro triste ou de uma nota de ódio contra a humanidade, mas antes de uma carta de desânimo e desesperança diante dela, a crônica do homem sem ambição, que foge da guerra pois não vê sentido algum em matar seus semelhantes e continua fugindo pela vida toda porque também não vê sentido em construir algo.
É a mais pura epopeia do homem egoísta, que não se apega a nada, não respeita ninguém e não tem objetivos senão os de sobreviver dia após dia, tentando fugir da solidão e numa busca eterna por algo inalcançável. Uma verdadeira e simples viagem ao fim da noite!
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