O Gigante Enterrado
- Italo Aleixo
- 20 de ago. de 2023
- 2 min de leitura

Poucos livros carregam tanta ternura, tristeza e sentimentalismo em suas páginas como a obra de Kazuo Ishiguro. O vencedor do Nobel de literatura de 2017, visita a Bretanha mágica do Rei Arthur num momento onde as glórias do lendário rei ficaram pra trás e suas lembranças foram perdidas. Na verdade todas as lembranças o foram, uma névoa mágica permeia a região e faz com que todo mundo se esqueça das coisas e não acumule lembranças. É nesse cenário que um casal de idosos decidem fazer uma jornada em busca de um filho à muito desaparecido.
Assim como em um outro clássico do autor, Não Me Abandone Jamais, o grande protagonista aqui são os sentimentos: o amor, a tristeza , a saudade. Kazuo sabe muito bem como tecer esses elementos em sua narrativa criando uma obra densa, sensível e tocante. Elementos fantásticos também estão presentes, dragões, ogros e até um cavaleiro perdido da Távola Redonda já velho e cansado, mas a obra segue um ritmo próprio, bucólico, parcimonioso, um ritmo que acompanha o cansaço de seus personagens e a esperança de que as coisas podem melhorar.
Em As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley, acompanhamos o apartamento de Avalon do mundo real. Aos poucos todo aquele reino mágico, suas aventuras e seus personagens vão desvanecendo, sejam varridos pelas areias do tempo ou para dentro das brumas, deixando no ar um clima de desolação e abandono. De certa forma, o livro de Kazuro Ishiguro mostra o que ainda sobrou dessa Avalon, uma terra esquecida, cujas memórias foram perdidas, e que desaparece dentro de si mesma, lentamente!
Os livros de Ishiguro se apresentam primariamente como típicas histórias de aventura, mas logo o leitor percebe que aquele roteiro dramático dará lugar à uma narrativa mais sóbria, onde a falta — a morte, a perda, a ausência — são as verdadeiras questões à serem discutidas. É com uma sensação agridoce que encaramos essa mudança e passamos a contemplar uma obra não exclusivamente sobre a perda, mas sobre a aceitação, sobre a certeza de que tudo tem um fim e devemos aproveitar cada momento daquilo que vivemos. Poucos autores valorizam tanto a importância dos sentimentos e das lembranças, ler os livros de Ishiguro dão uma sensação de pesar, tristeza mas ao mesmo tempo conforto, como um fim de tarde morno e uma brisa fresca de verão!
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